Ana Pelayo Henriques

Se para ter o privilégio de ver

com olhar capaz,

de quem disseca por gosto,

tiver de renunciar à tranquilidade daqueles

que seguem as sombras e esperam o relógio,

então não quero paz.


Se para poder pintar o mundo

com cores de carne e desenhá-lo,

como se desenham as letras,

não puder ter noite,

então não quero dormir.


Eu quero ver a beleza de todas as coisas,

mesmo daquelas que doem.

Aquelas a que só se atribui beleza

quando morrem depois da primavera.

Ana Pelayo Henriques

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